#14 Mitos e verdades sobre coleta de áudio nas redes sociais
O Facebook escuta o que os usuários falam para imprimir anúncios? Isso e outras questões envolvendo dados de áudio
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Com certeza você já ouviu falar desse questionamento: as plataformas sociais, principalmente o Facebook, escutam nossas conversas para direcionar anúncios? Você provavelmente conheceu alguém que se diz prova viva de que eles fazem isso e também já deve ter se deparado com alguém que é totalmente cético.
A resposta podemos dividir entre duas perguntas:
Facebook e outras plataformas escutam nossas conversas? SIM.
Usam isso para nos direcionar anúncios? NÃO.
A primeira resposta é o ponto mais polêmico. Facebook, Google, Apple, Amazon e provavelmente outras empresas (em inglês) escutam e guardam nossas conversas em áudio para aprimorar seus algoritmos de reconhecimento. Facebook (em inglês) e Amazon (em inglês) já admitiram isso e garantem que os dados são anônimos e usados apenas para pesquisa.
E é bom lembrar que, no caso do Google (Assistente), Apple (Siri) e Amazon (Alexa), é necessário que o aparelho esteja escutando o áudio durante todo o tempo para responder aos comandos do usuário. Ou seja, eles estão ouvindo tudo.
A segunda resposta é uma questão de capacidade. São bilhões de usuários com smartphones gerando conversas em áudio. Se uma inteligência artificial atual não consegue nem reconhecer direito o que um usuário fala em ambiente controlado (ou seja, livre de ruídos e em volume reconhecível), imagina conseguir reconhecer bilhões de áudios.
Além disso, deixamos milhares de rastros de dados sem saber na internet (em inglês). E esses já trazem riquíssimas informações estruturadas e processadas para que as plataformas nos direcione anúncios, sem precisar gastar processamento para entender nossas conversas em áudio.
E também temos a questão de viés de análise: quando nos focamos em identificar um sinal dentro de uma base, tendemos a destacar mais esse sinal em detrimento de outros. Por exemplo, se não estamos reparando nos anúncios que estão em nossas timelines, não iremos contar ou perceber o volume de anúncios de determinado segmento. Porém, quando estamos focados em descobrir a recorrência de um determinado anúncio, tendemos a destacar isso e enfatizar o resultado. Resumo: quando você menciona que está procurando camisetas novas e vai procurar por anúncios disso, provavelmente o número de anúncios sobre camisetas é igual ou até menor que antes, pois antes você não estava reparando nisso.
Na minha opinião, se as plataformas tivessem capacidade de processamento, iriam sim utilizar nossas conversas em áudio para direcionar anúncios e até para enriquecer e segmentar os dados da audiência. E é por isso que temos que manter a vigilância e cobrar das autoridades as regulamentações e limites da privacidade dos dados.
Sugestão: O que fazem com nosso CPF quando deixamos com o atendente da farmácia ou quando repassamos em estabelecimentos? Leia essa matéria bem completa sobre privacidade dos dados de autoria da querida Jacqueline Lafloufa.
NOVIDADE DA SEMANA
Facebook anuncia medidas de proteção e transparência para conteúdo de políticos e autoridades
Pouco tempo depois de anunciar uma maior isenção na disseminação de notícias falsas por parte de autoridades e candidatos políticos (veja na newsletter #11), o Facebook anunciou mais medidas visando as eleições do ano que vem nos EUA (e também impactará as eleições municipais aqui no Brasil).
As duas principais são a proteção reforçada no acesso das contas e o selo de notícia falsa nos conteúdos de políticos. O primeiro é chamado de Facebook Protect e é uma proteção especial para evitar que contas políticas sejam invadidas. O segundo é resultado da parceria da rede com empresas de auditoria de notícias (fact-checking). Para os políticos, quando uma notícia for comprovadamente falsa por essas empresas, ele ganhará um selo de disclaimer.
Veja mais detalhes das medidas no Techcrunch (em inglês).