#42 Doação de órgãos e análise de dados
Como os dados de doação de órgãos nos ensina um princípio básico de análise
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Tirado do TED Talks de Dan Ariely (considerado um clássico)
O gráfico abaixo mostra a adesão consentida de doadores de órgãos em diferentes países da Europa em 2003 e registrada na licença de habilitação. No final acaba valendo bastante a vontade dos familiares e outros fatores, mas o consentimento prévio da pessoa é o que está descrito no gráfico.
Observando a diferença entre os países, há uma diferença colossal entre os dois grupos. Podemos apontar diferenças religiosas, tradições locais, condições econômicas e entre outros fatores para o resultado, mas diversos países são bastante similares entre si. Então qual seria o fator que influencia nesses resultados?
Aqui temos uma das lições que considero essencial para qualquer analista: as premissas de coleta
No começo do texto e no gráfico, aponta-se que o consentimento está na licença de habilitação para motorista. Nos países com menores adesões consentidas, no formulário de habilitação, aparece uma opção de opt-in:
“Assinale se você QUER participar do programa de doação de órgãos”
E aí que temos a solução. Nos países com adesões maiores, a opção que aparece é de opt-out:
“Assinale se você NÃO QUER participar do programa de doação de órgãos”
E o que acontece nos dois casos? A aplicação da lei do mínimo esforço: a pessoa deixa a opção padrão (default), ou seja, não assinala.
Ou seja, olhando apenas o gráfico, levantamos uma série de hipóteses, mas esquece que a coleta é responsável pelos dados estarem ali. No livro Como Mentir com Estatística, o autor ressalta que a forma de coleta e a correspondente amostra interferem muito na leitura dos dados. Então, quando você se deparar com um gráfico, busque olhar:
De onde estão vindo esses dados?
Quais foram os métodos de coleta?
Quais as premissas de coleta, ou seja, as restrições?
E por curiosidade: no site da Global Observatory on Donation and Transplantation temos dados mais recentes de 2018 na taxa entre doadores de órgãos por um milhão de habitantes. O Brasil está na média, apesar de muitos países não terem dados coletados.
NOVIDADE DA SEMANA
Número de sites que passam em todos os testes do Web para Todos aumenta, mas há pouco a comemorar
O Movimento Web para Todos e BigData Corp acessou os 14,65 milhões de endereços ativos da web brasileira para avaliar o seu nível de acessibilidade com foco na experiência do usuário com algum tipo de deficiência. É o segundo teste rodado desde agosto de 2019.
Ainda percebe-se que praticamente toda web brasileira é inacessível para deficientes. No primeiro teste em 2019, os sites que passaram com sucesso eram 0,61% e, no teste rodado no final de abril de 2020 foram 0,74%.
O lado positivo veio nos sites que não atendiam nenhum requisito: em 2019 eram 5,6% dos sites e nesse ano foram apenas 0,01%.
Mais dados dos testes estão aqui no próprio site da MWPT.